Frases de Movimento

O termo é importado da literatura mas é comum à música e à dança. Frases musicais, frases literárias, frases de movimento. A noção é básica e estruturante: pressupõe um conjunto (de palavras, sons ou movimentos) com princípio, meio e fim. E pressupõe também a ideia de discurso. Quando temos algo a dizer, temos de organizar, por vezes um turbilhão de ideias, em conjuntos de palavras com uma certa unidade formal (princípio, meio e fim), que se apresentam sequencialmente. Podemos decidir que antes de dizer isto temos de dizer aquilo, pelo que uma certa frase virá antes de outra, mas é a esta forma de organização do fluxo informativo que recorremos para a construção de um discurso. Pequenas unidades manipuláveis. O interessante será que, quer na música quer na dança, os processos de composição musical ou coreográfica serão grosso modo semelhantes ao discurso das palavras. O compositor vai unindo grupos de sons com princípio, meio e fim, denominados frequentemente por frases musicais e o discurso coreográfico pode ser subdividido em pequenas sequências designadas por frases de movimento.

Essa divisão faz-se com auxílio de três noções: a de lógica cinética, que passa por encontrar um princípio, um meio e um fim, e normalmente um motivo que unifica aquele conjunto de ações; a de pausa respiratória, que assenta na incapacidade de dançar ininterruptamente, sendo facilmente observáveis momentos, equivalentes aos pontos finais ou pontos parágrafos da escrita literária, em que o movimento é parado ou suspenso; e a de ponto alto, momento de maior intensidade que pode estar no início, no meio ou no fim da frase, sendo que esses momentos, por contraponto com as pausas, também ajudam a definir uma frase de movimento. Munidos dessas três noções podemos partir para o desafio de dividir uma coreografia em unidades sequenciais ou frases de movimento. Nos estudos que realizámos, ao contrário do que suponhamos antes de realizar esses trabalhos, encontrámos uma percentagem perto dos 100% de acordos intra-observador (o mesmo observador em diferentes momentos) e inter-observadores (diferentes observadores de uma mesma coreografia). Afinal essa divisão parece clara e com pouca margem para subjetividades.

Outro aspeto interessante, diz respeito ao tamanho, digamos assim, das frases de movimento. Ao contrário da ginástica aeróbica onde se convencionou que “as frases têm 32 tempos” as frases na dança têm uma geometria variável, pouco mecânica. Tal como as frases literárias não terão todas o mesmo número de palavras, as frases de movimento não têm sempre o mesmo número de unidades (ações motoras). E talvez por isso, a noção de frase seja um elemento fundamental, diferenciador, quando se pretende identificar o movimento dançado e o distinguir do movimento não-dançado, ou seja, do movimento presente nas atividades quotidianas ou nas desportivas, por exemplo.

A riqueza do discurso coreográfico constrói-se na qualidade das frases de movimento e estas tendem a fugir de uma divisão mecânica ou gímnica. E vivem de modo próprio, independentemente da música. A dança acompanha-se normalmente com música mas são duas entidades autónomas. O movimento dançado estrutura-se em unidades motoras (passos, gestos, saltos, voltas) que podem ou não coincidir com as unidades próprias da estrutura musical. Por isso não será correto medir a dança em tempos (unidades musicais) mas nas suas unidades próprias, as ações motoras que compõem as frases do movimento dançado.