A aula de ballet
O bailarino profissional divide o seu dia-a-dia em três tipos de atividades: aula (class), ensaio (rehearsal) e espetáculo (performance).
O dia começa com uma aula de técnica e seguem-se os ensaios das coreografias que vão ser apresentadas nos espetáculos. Os dias de espetáculos podem ter uma rotina diferente mas nem nesses dias se prescinde da famosa e mítica aula. Muitos bailarinos quando se retiram, referem com nostalgia: mais do que dos espetáculos sinto falta da aula diária, daquela disciplina, daquela luta pelo aperfeiçoamento constante. Uma das frases mais conhecidas no mundo da dança, de quem não se conhece bem o verdadeiro autor (atribuída, por vezes, a Rudolf Nureyev)expressa a importância da aula: se faltares um dia à aula o teu professor vai notar, se faltares dois dias o teu corpo vai reparar e se faltares três dias será o público quem vai dar por isso!
A aula faz assim parte do imaginário mas também das rotinas, do quotidiano dos bailarinos profissionais. Em que consiste essa aula? Num conjunto de exercícios estruturados que visam o aquecimento específico na barra (barre), seguidos de outro conjunto de exercícios no centro (center floor). Este último conjunto pode ser subdividido, por exemplo, em adágio, petit allegro e grand allegro, terminando com a reverance.
Construída e reconstruída ao longo de centenas de anos, a aula pode ter tantas versões quantos professores que a ministram, mas existe uma tradição que é respeitada, nomeadamente o tipo e a sequência de exercícios. Fazem parte da barra, os demi e os grands pliés, os battements tendus, os rond de jambe à terre, os battements frappés, os petits battements sur le cou de pied, os battements fondus, os rond jambe en l’air, os développés e os grands battements, mais ou menos por esta ordem. Um aspeto importante nessa sequência é a alternância entre movimentos mais lentos (pliés, rond de jambe, fondus, développés) e movimentos mais rápidos (tendus, frappés, petits battements sur le cou de pied, grand battements). Outra ideia que está subjacente à barra é a ideia de aquecimento mas abordaremos isso noutro momento.
Entre a barra e o centro costuma existir um breve período de transição, utilizado para alongamentos, com o pé na barra, de frente, ao lado e atrás. Depois dos alongamentos, alguns equilíbrios (relevés em meia ponta ou ponta, por exemplo) está na hora de deixar a barra e enfrentar o centro!
Normalmente de frente para um espelho, os exercícios do centro iniciam-se por uma combinação de elementos já referidos como sejam os pliés, os tendus, os développés, posições de equilíbrio como attitudes e arabesques, com passos de ligação que permitem estruturar o movimento em frases. Esta primeira sequência é realizada de forma lenta e por isso designada por adágio combination. Seguem-se as pirouettes, os pequenos e os grandes saltos. Está na altura de viajar pelo espaço, em diagonais sucessivas, treinando um lado e depois o outro em combinações em que os passos básicos (chassé, glissade, pas de bourrée, coupé, bourré, pas de couru) servem como cimento para unir as voltas, as poses e os saltos. Os saltos têm o seu momento próprio, primeiro numa combinação de pequenos saltos normalmente designada por petit allegro, onde se incluem os sautés, sobresauts, changement de pieds, échappés, temps levés, emboîtés, assemblés, jetés, sissones, etc. O grand allegro inclui os grandes saltos, normalmente precedidos de corrida, como os grand jetés, os cabrioles, etc. A aula termina com a reverance, um gesto de agradecimento ao professor e ao pianista, uma vénia ligeiramente diferente para os bailarinos e para as bailarinas, mas com a qual se dá por terminado este ritual que é a aula de ballet.