Profissões da Dança: bailarino, coreógrafo, ensaiador
A dança gera algumas profissões. Essencialmente duas: a de bailarino(a) e a de coreógrafo(a).
Partindo da noção de que é profissional quem aufere algum rendimento (honorários) pelo trabalho que executa, as profissões de bailarino e de coreógrafo existem e estão consignadas por exemplo na CPP/2010 (Classificação Portuguesa das Profissões 2010, www.ine.pt), respetivamente nos códigos 2653.1 e 2653.2 enquadrados no grupo 265 dos “artistas criativos e das artes do espetáculo” (p.184). Ao bailarino competirá a execução das coreografias apresentadas normalmente em espaços públicos (teatros e afins) e ao coreógrafo a composição dessas coreografias, entendidas como sequências de dança que podem ser identificadas, normalmente com um título, um autor e uma data de estreia. As obras coreográficas equiparam-se assim às obras musicais e a outros trabalhos de autor no contexto do que se designa por artes performativas. E tal como nas artes plásticas podemos referenciar as obras de um escultor ou de um pintor, o mesmo pode ser feito relativamente ao percurso artístico de um coreógrafo. Relativamente aos bailarinos a sua biografia refere normalmente, como nos CV dos atores ou dos músicos, as obras (e os papéis) que interpretou e as companhias e teatros em que essas performances se realizaram.
Em algumas dessas companhias existe ainda uma terceira profissão, a de ensaiador. Trata-se de alguém que conhece bem o repertório, nomeadamente porque o dançou e cuja tarefa principal é transmitir a coreografia na ausência do coreógrafo (sempre que possível é uma pessoa escolhida por este) mas mantendo o “espírito” e as indicações do autor. Os franceses usam a expressão répétiteur para esta função de transmissão que inclui obviamente um número considerável de repetições. Nos programas dos espetáculos da Broadway ou do West End, aparece a figura de Dance Captain com a mesma função de manter o show, e neste caso a coreografia, o mais perto possível da ideia original.
Não se sabe muito bem desde quando estas profissões existem. Partindo da noção enunciada, desde que alguém foi pago para dançar ou para criar uma coreografia. Mas uma coisa é ser pago por um espetáculo e outra é viver exclusivamente desse ofício. Particularmente para quem se interessa pelas questões do género, e ao contrário da imagem que temos hoje de uma profissão no feminino, é curioso reter que as profissões de bailarino e de coreógrafo, tal como na música, eram exercidas exclusivamente por homens. Foi preciso esperar por 1713, para se ver no regulamento que o rei Louis XIV impôs à Opéra de Paris, algum equilíbrio na composição do elenco: 12 bailarinos e 10 bailarinas(1).
Para quem gosta de curiosidades, saiba-se que em Portugal o número de bailarinos profissionais anda perto de uma centena, a maior parte dos quais na Companhia Nacional de Bailado e outros dispersos por pequenas companhias de dança; que o número de coreógrafos profissionais, no sentido de viverem exclusivamente dessa profissão não ultrapassa os dedos de uma mão e quanto a ensaiadores, na mesma condição, devemos ter de um a dois.
(1) Pastori, JP. (1996). La Danse 1. Paris: Galimard. (p.30)